segunda-feira, 5 de setembro de 2011

AFETO: INGREDIENTE NECESSÁRIO À EDUCAÇÃO

“Não sei...
Se a vida é curta ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
Se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa do outro mundo,
É o que dá sentido à vida
É o que faz com que ela não seja
nem curta, nem longa demais,
Mas que seja intensa, verdadeira, pura...
Enquanto durar.”

(Cora Coralina)
Como falar em afeto num mundo capitalista e individualista? Andamos tão apressados buscando cada vez mais o “ter” e descartando o “ser”, que já não temos mais tempo nem de tocar o outro. Um toque na mão, no ombro, no rosto...Se tudo isso que é tão simples e nada custa, tem se tornado algo quase impossível, imagine tocar o coração do outro. Cora Coralina de maneira sábia traz uma inquietação que nos convida a refletir:” Não sei...Se a vida é curta ou longa demais pra nós / Mas sei que nada do que vivemos tem sentido / Se não tocamos o coração das pessoas.”
Vivemos momentos em que não podemos mais adiar a troca de afetos, até parece que o nosso próprio coração encontra-se a quilômetros de distância de nós mesmos. E o coração do outro? Ah! Esse até parece ser inatingível. Não podemos mais deixar para amanhã gestos que podem afetar positivamente não só a nós mesmos como aos nossos próximos.
Em nossas instituições de ensino temos nos preocupado em ensinar sobre o órgão coração, sobre as suas funções, de acordo com a ciência, mas nos esquecemos de mostrar para o nosso aluno que desse órgão procedem as fontes da vida como bem afirmou o próprio Deus em Prov. 4:23. Falamos de guerras que aconteceram tão distantes no tempo e espaço e nos esquecemos de atentar para as guerras internas vividas por nossos alunos, queremos fazer conhecidos tantos vultos históricos e não proporcionamos a nossos alunos o conhecimento de si mesmos.
Acredito e aposto na educação de corpo inteiro, apesar de a escola ainda supervalorizar os aspectos cognitivos e deixar em segundo plano os aspectos afetivos. Práticas essas que têm reduzido o aluno a cérebros, esquecendo-se de que esse ser é constituído de corpo, alma e espírito. Henri Wallon, ainda no início do século passado já postulava a ideia de que a escola deve proporcionar uma formação integral. Seus pensamentos abalaram os fundamentos teóricos da época, e hoje ainda tem constituído um desafio para os educadores que ainda insistem na mera transmissão de conteúdos. Estes, são sem sombra de dúvida, importantes para conquistar um lugar na sociedade, para se pertencer, fazer parte, ter... E para se ser?
Investir nesse aspecto (afetivo) é favorecer as relações interpessoais e consequentemente, a construção de uma aprendizagem significativa, na certeza de que a semente encontrará um terreno fértil: o coração do educando. Então, já não há razão de priorizar a semeadura de conteúdos, sem antes preparar o terreno que irá recebê-los; negar essa realidade, é como trabalhar em corações áridos. Daí, a realidade que enfrentamos: pessoas cheias de conhecimentos, muitas especializações (não que essas sejam desnecessárias), mas com muitos problemas emocionais que o seu conhecimento acadêmico não dá conta de resolvê-los.
O sociólogo italiano Domenico de Mais, em seu livro O Ócio Criativo, declara que a escola deve formar para o amor e a beleza. O mesmo concebe a idéia de que é preciso educar não só para o trabalho, mas também para a vida.
"Se a escola forma só para o trabalho, que ocupa um décimo das nossas vidas, forma para a tristeza, porque o ser humano não vive só para o trabalho. Ele vive também para o estudo, para a aprendizagem, para as amizades, para o amor e para a beleza"
Vale a pena assistir ao vídeo em que o Bom Dia Brasil entrevista o escritor Domenico De masi.


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